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UMA VIDA DE AMOR PELAS PESSOAS E PELO PLANETA

05/26/2025

Por Luciana Quintão, fundadora e presidente da ONG Banco de Alimentos  

“Uma carta de amor para o planeta”. Foi assim que Sebastião Salgado apresentou a sua exposição Gênesis, em 2013, que, como todos os seus trabalhos, teve enorme impacto na conscientização ambiental e social global. A trajetória deste fotógrafo premiado representou uma vida de amor pelas pessoas e pelo nosso planeta. Ele mostrou a beleza da natureza intocada, ao mesmo tempo em que usou a sua câmera como um manifesto contra as realidades de um mundo profundamente desigual, marcado por guerras, pobreza e injustiças. Um olhar comovente, um olhar cidadão. Um olhar que quando olhava para baixo nos fazia refletir sobre o inimaginável e o inaceitável e quando olhava para cima nos fazia ficar extasiados com a beleza da criação com a qual fomos brindados, destacando a nossa responsabilidade em ter o melhor papel frente a ela, com a humildade necessária para saber que nada é nosso e tudo tem que ser preservado.

Salgado se propôs a mostrar a violência contra a natureza e o ser humano gerada pelo próprio ser humano. São fotos e livros que educam e inspiram o mundo, passando por questões como a crueldade da pobreza, seca na África, guerras civis, ondas migratórias, povos indígenas, Amazônia e tantas outras! As imagens de Serra Pelada (Pará, 1986), o maior garimpo a céu aberto do mundo, foram um marco, revelando a violência da tragédia da corrida pelo ouro, entre outras.

Além de fotografar fatos do mundo, externos à sua vida pessoal, não se absteve de trabalhar a realidade próxima! Sebastião Salgado provou como é possível transformar o mundo através da sua vida pessoal. Criou a ONG Instituto Terra, ao lado de sua esposa Lélia Wanick. Juntos, eles fizeram ressurgir mais de 600 hectares de florestas da Mata Atlântica em meio a pastagens degradadas, em Minas Gerais; plantaram cerca de 2,7 milhões de árvores; e revitalizaram 2,5 mil nascentes do Rio Doce, por meio do projeto Olhos D’Água.

O que aprendemos com este ser humano exemplar? Através de suas lentes e na vida pessoal, ele colocou em prática o que eu conceituo como Inteligência Social, a nossa inteligência voltada ao bem comum. Uma vida que revela o potencial de transformação que cada ser humano possui para melhorar a sociedade de alguma forma e de algum grau, sendo ele, neste caso, um gigante!

Eterna defensora de que o papel principal de cada um de nós é ter uma sociedade mais evoluída, que preserve e desenvolva a vida , fiquei imensamente triste com a aprovação, pelo Senado Federal, do PL 2.159/2021, que flexibiliza as regras de licenciamento ambiental do país, ao aprovar o licenciamento baseado apenas na autodeclaração do empreendedor, por meio da Licença por Adesão e Compromisso (LAC); a retirada de atribuições técnicas e normativas do Sistema Nacional do Meio Ambiente; a proteção de terras indígenas somente em áreas já demarcadas; e outras medidas que ignoram o artigo 225 da Constituição, que garante aos cidadãos brasileiros o “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo”.

É isso que o Congresso Nacional quer que o país leve para a Conferência do Clima da ONU (COP 30), em um momento de crise climática insustentável? Que escolhas de vida estamos fazendo? Como estamos usando a nossa capacidade, a nossa Inteligência Social, para garantir a sustentabilidade do planeta e a preservação dos ecossistemas, respeitando as pessoas?

Que o olhar e a humanidade de Sebastião Salgado possam contagiar mais corações e ampliar a nossa capacidade de intervir concretamente para um futuro capaz de garantir a dignidade do ser humano, com menos “gente vagando entre o sonho e o desespero”, como escreveu José Saramago no prefácio do livro Terra, obra de Sebastião Salgado publicada em 1997. A melhor politica é fazer o Bem sem demagogia, mas com verdade, eficiência e liberdade, no caso, sempre com consciência.

Obrigada, Sebastião, pelo seu legado eterno para a humanidade!

 

 

Danielle Coelho

Danielle Coelho

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