É alentadora a iniciativa da exposição “Carolinas”, que acontece em São Paulo, em homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus. Uma pessoa cuja memória merece ser celebrada e amplificada. Com o seu livro Quarto de Despejo – diário de uma favelada, de 1960, Carolina foi uma das pessoas que escancarou o problema da fome no país, fonte de inspiração inclusive para que eu criasse a ONG Banco de Alimentos, em 1998. A fome que Carolina narra ainda é real, cotidiana, e continua a atingir milhões de brasileiros.
Há algum tempo gravei uma homenagem a ela que gostaria de compartilhar com vocês. São trechos do livro Quarto de Despejo (citados em “Carolina: uma biografia”, de Tom Farias), que ainda ecoam nas comunidades em que a desigualdade é a regra:
“Eu tenho tanta dó dos meus filhos. Quando eles vê as coisas de comer brada: – Viva a mamãe! A manifestação agrada-me. Mas eu já perdi a capacidade de sorrir. Dez minutos depois eles querem mais comida. (…) Fui pedir um pouco de banha à Dona Alice. Ela deu-me banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim, no dia 13 de maio de 1958, eu lutava contra a escravatura atual – a fome.”
Carolina Maria de Jesus (1914-1977) nasceu em Sacramento (MG), em uma comunidade rural, de pais analfabetos, neta de escravos alforriados e totalmente sem posses. Na casa do seu avô de terra batida, havia só um prato. Em 1948 mudou-se para São Paulo, na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de papel e ferro velho. Sozinha, com três filhos, enfrentou a miséria e, mesmo com pouca escolaridade, passou a registrar em um diário a pobreza, a fome e a humilhação do ser humano que vive em favelas. As anotações transformaram-se no livro Quarto de Despejo.
Foram muitas as histórias semelhantes às de Carolina que presenciei ao longo dos 26 anos de existência da ONG Banco de Alimentos. Não só sobre a fome de comida, mas as várias fomes, de saúde, educação, moradia, justiça social – como eu descrevo em meu livro Inteligência Social – a perspectiva de um mundo sem fome(s).
Vivemos em um mundo em que a desigualdade se acentua e as “várias fomes” transformaram-se em problemas estruturais, para os quais ainda não se vislumbram soluções de fato eficazes. Mais do que nunca precisamos aprender a viver em sociedade e partir da premissa de que construir um mundo melhor não é utopia, é inteligência.
Compartilho o vídeo e este texto como um convite à escuta, à empatia e, acima de tudo, à ação. A fome não espera. A desigualdade não se resolve sozinha. Governo, sociedade civil e iniciativa privada precisam mais do que nunca estar juntos nessa luta. Pela memória de Carolina. E por todos que ainda hoje lutam para existir. Assista ao video aqui!
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